A frase “meu advogado sumiu” pode parecer exagero para quem nunca enfrentou um processo criminal, mas ela é muito comum entre réus de crimes graves, especialmente em casos de homicídio ou tentativa de homicídio. Às vezes, o advogado não atende mais o telefone, não comparece às audiências, não apresenta as peças no prazo ou simplesmente desaparece no momento em que a pessoa mais precisa.
O problema é que, em crimes dolosos contra a vida, o tempo é decisivo. Cada inércia pode custar anos de liberdade. E, no Tribunal do Júri, onde a narrativa e a estratégia são tão importantes quanto a prova, ficar sem defesa técnica de verdade é um risco concreto de condenação injusta.
Neste post, explicamos o que fazer quando o advogado desaparece, como funciona a substituição de defensor, o que o réu pode fazer se estiver preso, como recuperar o controle do processo e de que forma a atuação técnica pode reverter situações que já parecem perdidas. O conteúdo é voltado a pessoas acusadas de homicídio, familiares de réus presos ou em vias de julgamento e a todos que precisam de orientação urgente quando se sentem abandonados no meio de um processo criminal.
QUANDO A AUSÊNCIA DE DEFESA VIRA NULIDADE
O Código de Processo Penal assegura a todo réu o direito à ampla defesa e ao contraditório. Isso significa que não basta ter um defensor nomeado no papel. A atuação tem que ser real, estratégica, ativa e técnica. Quando o advogado não apresenta alegações finais, não comparece ao interrogatório ou falha na formulação de quesitos no Tribunal do Júri, o processo pode ser anulado. Mas nem sempre essa nulidade é automática.
A jurisprudência brasileira tem reconhecido que há nulidade quando a ausência de defesa técnica causa prejuízo ao réu. O Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça já anularam julgamentos por ausência de sustentação oral, falta de recurso cabível ou ausência de acompanhamento na audiência de instrução.
Por isso, quando o advogado “some” ou deixa de atuar de forma minimamente diligente, a primeira medida é documentar a omissão. Protocolos, e-mails, ligações registradas, procuração vencida ou abandonada, tudo pode ser utilizado para demonstrar que o réu estava formalmente representado, mas na prática desassistido.
COMO SUBSTITUIR O ADVOGADO DURANTE O PROCESSO
A substituição de advogado pode ser feita a qualquer momento, inclusive com réu preso ou próximo do julgamento no Tribunal do Júri. Para isso, basta que o novo defensor protocole a renúncia do antigo (caso este se recuse a fazê-lo) e anexe uma nova procuração.
Importante: se o antigo advogado deixou de praticar atos essenciais, a nova defesa pode peticionar informando a omissão e requerendo a reabertura de prazos, nulidade de atos prejudiciais ou adiamento do julgamento.
Nos casos mais graves, como ausência no plenário do júri ou omissão em apresentar recurso contra condenação, é possível apresentar habeas corpus ou revisão criminal com base na tese de defesa ineficiente.
Em caso de defensoria pública atuante, o réu também pode solicitar a substituição do defensor dativo, caso comprove desídia, demora injustificada ou ausência em atos relevantes. Não é comum, mas a jurisprudência admite a troca quando o abandono compromete o contraditório.
O QUE FAZER SE O ADVOGADO ABANDONOU O CASO E O RÉU ESTÁ PRESO
Se a pessoa está presa e o advogado sumiu, o risco de violação ao direito de defesa é ainda maior. O sistema carcerário dificulta o contato externo, e muitas vezes o réu sequer sabe se tem processo em andamento. Nestes casos, familiares podem agir em nome do preso.
A recomendação é imediata: procurar outro advogado com experiência no Tribunal do Júri e solicitar a análise do processo para avaliar a situação processual, a presença de nulidades, a viabilidade de pedidos de liberdade e a possibilidade de revisar atos anteriores.
Algumas medidas emergenciais incluem:
- Pedido de revogação da prisão preventiva com base na ausência de movimentação processual;
- Habeas corpus por excesso de prazo;
- Incidente de insanidade mental, se aplicável;
- Reclamação constitucional, se houver violação de súmulas vinculantes ou princípios constitucionais;
- Petição direta ao juiz da causa informando abandono técnico.
É fundamental agir com rapidez. O tempo entre a denúncia e o julgamento pode ser usado para consolidar versões distorcidas se a defesa não estiver presente para contrapor.
COMO A DEFESA TÉCNICA PODE RECUPERAR UM PROCESSO ABANDONADO
Muitas vezes, quando um novo advogado assume um processo já em curso, o caso parece perdido. Mas há caminhos jurídicos possíveis, mesmo após fases avançadas. A defesa técnica pode:
- Requerer o desentranhamento de provas ilícitas ou não impugnadas anteriormente;
- Pedir diligências não realizadas pela defesa anterior;
- Apresentar memoriais com nova linha defensiva;
- Impugnar decisões com base em nulidade por ausência de defesa efetiva;
- Solicitar novo interrogatório, se houver justificativa jurídica;
- Formular nova tese para o plenário do júri, alterando quesitos e estratégia.
É possível também preparar o processo para uma eventual revisão criminal, especialmente quando a condenação tenha se baseado em omissões de defesa.
Importante destacar: a defesa técnica não é apenas uma formalidade. Ela precisa ser ativa, coerente e estratégica. E o abandono da causa não é apenas falha ética — é violação constitucional.
PERGUNTAS FREQUENTES
Posso trocar de advogado mesmo durante o processo?
Sim. A qualquer momento. Basta nomear um novo defensor e protocolar a substituição.
Se o meu advogado não aparece nas audiências, posso pedir a nulidade do processo?
Depende. Se a ausência causou prejuízo à sua defesa, há chances reais de nulidade, especialmente em fases decisivas como audiência de instrução e julgamento.
Tenho um parente preso e não sei se o advogado está atuando. O que fazer?
Solicite a cópia do processo, procure um novo advogado e peça a análise da situação. O réu pode estar sendo processado sem defesa real.
É possível refazer a fase do júri se o advogado anterior foi omisso?
Sim. Já houve anulação de julgamentos por ausência de sustentação oral, não formulação de quesitos e abandono técnico no plenário.
Posso processar o advogado que me abandonou?
Sim, na esfera ética (OAB) e até na cível, se houver prejuízo comprovado. Mas isso não substitui a necessidade de uma defesa urgente.
O DIREITO À DEFESA É SEU. E NÃO PODE SER TERCEIRIZADO AO ABANDONO
No Tribunal do Júri, a ausência de uma defesa técnica real não é detalhe: é caminho direto para a condenação. A justiça criminal exige preparo, tempo, estratégia e presença constante. Um advogado ausente, omisso ou desaparecido pode comprometer toda a sua vida.
Se você ou alguém da sua família está sendo acusado de um crime contra a vida e sente que está sem defesa de verdade, procure ajuda. Cada prazo perdido é uma chance desperdiçada de demonstrar sua versão. E cada silêncio da defesa pode ser interpretado como aceitação da acusação.
O núcleo Tribunal do Júri da Almeida Marques Advocacia atua exclusivamente em casos de crimes dolosos contra a vida, com foco em réus primários, pessoas acusadas injustamente, situações complexas e reconstrução de defesas prejudicadas por abandono técnico.
Se o seu advogado sumiu, você não está sem saída. Mas precisa agir rápido. Porque quem não se defende, acaba sendo julgado apenas pelo que dizem dele — não pelo que de fato aconteceu.