Entre as situações mais angustiantes enfrentadas por familiares de pessoas presas preventivamente ou em cumprimento de pena está a incerteza quanto à atuação do advogado. A frase “não sei se o advogado está fazendo algo” é cada vez mais comum — e com razão. Em muitos casos, o defensor constituído desaparece, deixa de peticionar, perde prazos ou sequer aparece nas audiências, mesmo em processos gravíssimos, como homicídios ou tentativas de homicídio.
Neste post, explicamos passo a passo o que fazer quando se desconfia que o advogado abandonou a causa ou não está atuando adequadamente. O conteúdo é voltado a familiares de réus presos acusados de crimes dolosos contra a vida, em especial quando há risco iminente de julgamento no Tribunal do Júri ou condenação injusta por ausência de defesa técnica efetiva.
COMO DESCOBRIR SE O ADVOGADO ESTÁ ATUANDO DE FATO
A primeira medida é descobrir se o advogado nomeado no processo está realmente acompanhando o caso, praticando os atos necessários e protegendo os direitos do réu. Para isso, é essencial:
- Obter o número do processo criminal;
- Consultar o site do Tribunal de Justiça correspondente;
- Verificar o andamento processual e os nomes dos advogados habilitados;
- Confirmar se há petições recentes, pedidos de liberdade, recursos ou manifestações da defesa técnica.
Se o nome do advogado não aparece nas últimas movimentações, se nenhuma peça foi apresentada nos últimos meses ou se ele deixou de comparecer às audiências, é sinal de que pode haver abandono técnico.
É importante lembrar que, no sistema jurídico brasileiro, o advogado tem o dever de manter o cliente informado, comparecer aos atos processuais e exercer a defesa de forma ativa e diligente. O silêncio absoluto, a omissão contínua e a ausência de manifestações processuais relevantes são indícios concretos de falha grave na defesa.
COMO AVALIAR A ATUAÇÃO DO ADVOGADO EM PROCESSOS DE CRIMES CONTRA A VIDA
Nem toda demora é sinal de abandono, mas há situações em que a inércia do advogado é evidente. Alguns exemplos de condutas que podem prejudicar irremediavelmente o réu:
- Não apresentar resposta à acusação no prazo;
- Deixar de comparecer à audiência de instrução;
- Não apresentar alegações finais;
- Não formular quesitos no Tribunal do Júri;
- Deixar de recorrer de sentença condenatória;
- Não pedir revogação da prisão quando cabível;
- Recusar contato com familiares sem justificativa.
A ausência reiterada de atuação configura falha técnica e pode, inclusive, levar à anulação de atos processuais se demonstrado o prejuízo ao réu.
Se o advogado não informa o andamento, não responde mensagens e não realiza atos mínimos no processo, a substituição deve ser considerada imediatamente.
COMO TROCAR DE ADVOGADO SE O RÉU ESTÁ PRESO
A troca de advogado pode ser feita a qualquer momento. Mesmo que o réu esteja preso, um familiar pode providenciar novo defensor, desde que este aceite atuar no caso.
O novo advogado poderá:
- Protocolar a renúncia do defensor anterior;
- Juntar nova procuração;
- Solicitar vista dos autos para avaliar a situação processual;
- Apontar eventuais nulidades por ausência de defesa técnica;
- Requerer reabertura de prazos ou reiteração de pedidos de liberdade;
- Peticionar diretamente ao juiz informando a substituição e o abandono anterior.
O juiz deve aceitar a substituição desde que o novo advogado esteja regularmente constituído. A partir desse momento, a nova defesa pode adotar providências urgentes para proteger os direitos do réu.
O QUE FAZER QUANDO A AUSÊNCIA DE DEFESA É GRAVE
Nos casos mais críticos, quando há clara omissão do advogado em momentos processuais relevantes, é possível tomar medidas mais contundentes, como:
- Notificar o juiz sobre o abandono técnico;
- Solicitar a nomeação de defensor público em caráter provisório;
- Apresentar habeas corpus por excesso de prazo ou ilegalidade da prisão;
- Requerer a nulidade de audiências realizadas sem defesa;
- Pedir a anulação do julgamento no júri se houver ausência de sustentação oral ou omissão grave no plenário.
Caso já tenha ocorrido condenação, é possível discutir a revisão criminal com base na ausência de defesa técnica efetiva, nos termos da jurisprudência dos tribunais superiores.
A atuação da nova defesa deve ser rápida e estratégica, com foco na reconstituição da linha defensiva, preservação da liberdade e revalidação dos direitos processuais do réu.
PERGUNTAS FREQUENTES
Posso substituir o advogado mesmo com o réu preso?
Sim. Basta apresentar nova procuração. O juiz deve aceitar o novo defensor, desde que regular.
Como saber se o advogado anterior abandonou a causa?
Verifique se ele apresentou petições nos últimos meses, compareceu às audiências e manteve contato com o réu ou a família. O silêncio absoluto é indício forte de abandono.
O que acontece se o julgamento ocorrer sem defesa de verdade?
Se for comprovado que o réu foi julgado sem defesa técnica efetiva, é possível pedir a anulação do processo ou do júri.
A defensoria pública pode ser acionada se o advogado sumiu?
Sim, especialmente se não houver recursos para constituir outro advogado. A nomeação de defensor dativo pode ser solicitada, informando a omissão do anterior.
A ausência de defesa pode justificar a liberdade do réu?
Sim. Se houver excesso de prazo, abandono da causa e risco de prejuízo irreparável, a prisão pode ser considerada ilegal.
QUEM NÃO TEM DEFESA REAL, TEM DIREITO A REPARAÇÃO
No sistema de justiça criminal, a ausência de defesa técnica não é uma falha menor: é uma violação direta ao direito fundamental de ser julgado com dignidade. Quando o advogado desaparece, silencia ou abandona o processo, o réu fica vulnerável à condenação sumária, ao encarceramento injusto e à estigmatização.
Se você tem um parente preso e desconfia que está sendo processado sem acompanhamento jurídico verdadeiro, aja imediatamente. Busque outro advogado, consulte os autos, documente o abandono e reforce a linha defensiva.
A Almeida Marques Advocacia atua com foco exclusivo em crimes dolosos contra a vida, com experiência na reconstrução de defesas abandonadas, revisão de estratégias processuais e atuação direta no Tribunal do Júri. Nenhum réu deve ser condenado por ausência de defesa. E nenhum familiar deve permanecer na dúvida sobre se alguém está ou não lutando pela liberdade do seu ente querido.
Se você sente que seu familiar está sozinho num processo criminal, a hora de agir é agora. Porque cada audiência, cada prazo e cada silêncio podem custar uma vida inteira.