Entenda os riscos jurídicos, emocionais e institucionais de uma atuação acusatória ineficaz no Tribunal do Júri e o que pode ser feito para não deixar um crime impune
Nem sempre a fraqueza da acusação está relacionada à falta de provas. Em muitos casos, há elementos contundentes nos autos, mas eles não são utilizados com a contundência e a coerência necessárias. O que se vê, então, é uma acusação que parece meramente formal, ausente de estratégia, descolada da dor vivida pelos familiares da vítima e incapaz de sustentar o peso simbólico e jurídico de um homicídio.
Neste post, vamos explicar o que caracteriza uma acusação fraca, quais seus efeitos sobre o julgamento, que tipos de prejuízos ela pode causar e o que você pode fazer se isso estiver acontecendo no caso de alguém que você perdeu.
O que é uma acusação fraca?
Uma acusação fraca é aquela que, apesar de formalmente correta, não cumpre seu papel essencial de sustentar, com coerência e densidade, a responsabilidade penal do réu. Alguns sinais frequentes:
- Denúncia genérica, com narrativa vaga dos fatos;
- Falta de qualificadoras mesmo quando presentes nos autos;
- Inatividade do MP na fase de instrução (ex: não arrola testemunhas, não participa ativamente de oitivas);
- Ausência no plenário ou atuação meramente protocolar;
- Aceitação mecânica de desclassificações sugeridas pela defesa sem resistência argumentativa;
- Quesitação mal formulada, que induz absolvição ou facilita desclassificação;
- Não apresenta memoriais ou deixa de recorrer de decisões ilegítimas.
Em suma, é quando o MP cumpre o papel de forma burocrática, e não como protagonista de uma instituição que zela pela verdade, pela vida e pela dignidade da vítima.
Efeitos concretos da acusação ineficaz
Quando a atuação acusatória é fraca, os impactos se manifestam em várias camadas:
- Na narrativa: a história da vítima perde densidade, e os jurados não compreendem a gravidade do fato;
- Na prova: provas materiais e testemunhais não são contextualizadas, analisadas ou exploradas adequadamente;
- No julgamento: facilita a absolvição, desclassificação ou aplicação de penas desproporcionais;
- Na família: transmite a sensação de abandono institucional e de que a vida da vítima não valeu nada para o Estado.
Quais são as causas da fragilidade da acusação?
- Excesso de demandas no Ministério Público: promotores são acumuladores de funções e processos, e não conseguem atuar com profundidade em todos;
- Baixo preparo técnico ou experiência limitada em Tribunal do Júri;
- Cultura de minimização da violência contra certos grupos (ex: mulheres, pessoas negras, LGBTQIA+);
- Falta de escuta ativa das vítimas e suas famílias;
- Dependência excessiva da convicção pessoal, sem interlocução com o processo como um todo.
O que a família pode fazer?
A família da vítima não é obrigada a aceitar a omissão do Estado. O ordenamento jurídico brasileiro permite que familiares se habilitem como assistentes de acusação (art. 268 do CPP), atuando com advogado próprio para:
- Apresentar teses e argumentos que o MP deixou de explorar;
- Recorrer de decisões mesmo quando o MP não o faz;
- Participar do plenário, formular quesitações, confrontar testemunhas;
- Representar simbolicamente a vítima no processo.
A assistência não depende de autorização do MP e tem legitimidade plena para atuar dentro da legalidade.
Exemplos reais de atuação decisiva da assistência
Caso em que o MP propôs suspensão condicional do processo em tentativa de feminicídio. A assistência demonstrou a inadequação do acordo e obteve continuidade do processo.
Processo de homicídio em que o MP não pediu qualificadora de motivo torpe. A assistência requereu inclusão com base nos autos, e o juízo deferiu.
Sessão de júri em que o MP pediu desclassificação para lesão corporal. A assistência sustentou tentativa de homicídio e garantiu a competência do júri.
Dúvidas frequentes
Precisa de autorização para atuar como assistente?
Não. A família tem esse direito legal e pode constituir advogado para isso.
E se o MP e a assistência discordarem?Ambos atuam de forma autônoma. A assistência pode sustentar teses diferentes, desde que dentro da legalidade.
Qual o efeito real da assistência no julgamento?
Significativo. A presença de um profissional comprometido com a vítima muda o tom do julgamento e reforça a responsabilização penal.
Firmeza não é vingança, é justiça
A atuação fraca da acusação não é apenas uma falha técnica. É um problema institucional que compromete o direito da família à verdade, à memória e à justiça.
Contar com uma advocacia que compreende a importância simbólica e jurídica da assistência à acusação é essencial quando o Ministério Público atua de forma aquém do esperado.
Se você sente que o caso está sendo conduzido com frieza, omissão ou distanciamento, saiba que há caminhos legais para fazer valer a vida de quem você perdeu. A justiça é uma construção coletiva, e você pode fazer parte dela de forma ativa, com respaldo legal, técnico e humano.